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O
DECORRER destes dois últimos séculos, pesquisadores e historiadores no mundo
inteiro muitas vezes usaram a palavra “Armagedom” para definir as duas maiores
catástrofes já causadas pelos humanos: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A
comparação feita é para sublinhar o grau de absurdidade que foram aqueles dois
eventos. Mesmo hoje, tendo se completado um século desde que estourou a
Primeira Grande Guerra, a perplexidade de tudo aquilo — as imagens obtidas, os
relatos escritos e a carnificina desumana generalizada que foi tudo aquilo —,
ainda nos causa náuseas e assombro. Tem-se
dito que a Primeira Guerra Mundial chocou o mundo de um modo tão impressionante
que o pavor de guerra se alastrou por todas as culturas desde então. Embora a
Segunda Guerra tenha sido muito maior que a Primeira, todos sabem que esta
derivou, ou era uma extensão, daquela. Quão impressionantes foi a Primeira
Guerra Mundial? No livro I Found No Peace (Não Encontrei Paz), publicado em
1936, o correspondente internacional Webb Miller escreveu: “É surpreendente,
mas só vim a me aperceber do horror cataclísmico da [Primeira Guerra Mundial],
toda a sua impressionante obscenidade e futilidade exatamente oito anos depois
do cessar-fogo.” Assim, as nações e impérios envolvidos na guerra constituíram
um espetáculo muito “impressionante” no palco mundial.
Enquanto as nações se digladiavam na terra, outro
acontecimento igualmente impressionante, conforme creem e pregam as Testemunhas
de Jeová, estaria acontecendo exatamente naquele mesmo tempo. O que era? “O
nascimento do Reino de Deus”, afirmam elas. A crença de que Jesus tornou-se rei
do Reino de Deus em 1914 EC é exclusiva dessa religião, não sendo compartilhada
ou aceita por nenhuma outra, seja ela declaradamente cristã ou não. Desde os
primórdios da história dos Estudantes Internacionais da Bíblia, em fins do
século 19,* a revista mundialmente conhecida e publicada por eles, a The Watchtower
(A Sentinela em português), tem apontado para 1914 EC como um ano ‘marcado na
profecia bíblia para o início do reinado de Cristo’. Atualmente os do Corpo dos
Governantes, os líderes máximos das Testemunhas de Jeová, há muito têm fomentado
a ideia de que o Reino dos Deuses iniciou seu domínio nos céus invisíveis em
outubro de 1914 e que, como consequência disso, “as nações ficaram furiosas” a
ponto de darem início à Primeira Guerra mundial, conforme entendem ser o cumprimento de uma profecia bíblica registrada em Revelação (Apocalipse) capítulo 11. Leiamos Revelação
11:15-18 na íntegra.#
A Primeira Grande Guerra deixou o mundo impressionado, tamanho foi o banho de sangue e a violência com que ela se deu. |
“E o sétimo anjo
tocou a sua trombeta. E houve vozes altas no céu, dizendo: ‘O reino do mundo
tornou-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o
sempre.’ E os vinte e quatro anciãos, sentados nos seus tronos diante de Deus,
prostraram-se sobre os seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: ‘Agradecemos-te,
Jeová Deus, o Todo-poderoso, Aquele que é
e que era, porque assumiste o teu grande poder e começaste
a reinar. Mas as nações ficaram furiosas, e veio teu próprio furor e o tempo
designado para os mortos serem julgados, e para dar a recompensa aos teus
escravos, os profetas, e aos santos e aos que temem o teu nome, a pequenos e a
grandes, e para arruinar os que arruínam a terra.’”, Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Sagradas, publicadas por nós Testemunhas de Jeová.
“AS
NAÇÕES FICARAM FURIOSAS” APENAS EM 1914?
É evidente que o fato de que “as nações
ficaram furiosas” é mesmo em resultado de o Reino dos Deuses ter iniciado seu
domínio. Diante do toque da sétima trombeta o Deus-Mensageiro anuncia: “O Reino
do mundo tornou-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo”. Mas, será que 1914
e os eventos impressionantes presenciados na terra relacionados à Primeira
Guerra Mundial de 1914 a 1918 tiveram mesmo ligação com o que foi profetizado
aqui? Como saber verdadeiramente se o que o texto inspirado diz aponta mesmo para
1914? Será que tais eventos não poderiam ter sido — ou que ainda serão — noutros tempos? João, o escritor de Revelação, indica claramente que os Deuses deveras
‘assumiram o grande poder deles e começaram a reinar’ e que, em consequência
direta disso, “as nações ficaram furiosas” umas com as outras. Todavia, note que a fúria
das nações de modo algum é o único acontecimento apontado pelo texto. Ele
também aponta que, em consequência de “o reino do mundo” tornar-se dos Deuses e
de eles ‘assumirem o grande poder, começando a reinar’, outros eventos ocorreriam em paralelo: 1) Seria o tempo marcado para o “próprio furor” dos Deuses
sobrevir aos iníquos do mundo; 2) Seria “o tempo designado para os mortos serem
julgados”; 3) “Para dar a recompensa aos teus escravos, os profetas, e aos
santos e aos que temem [o nome dos Deuses], a pequenos e a grandes, e [3)] para
arruinar os que arruínam a terra.”
Sabemos que a carnificina da Primeira Guerra
mundial fora deveras impressionantemente devastadora — as nações estiveram
mesmo ‘furiosas’ umas com as outras. Mas, será que os demais acontecimentos
apontados pela profecia aconteceram? Será que o “furor” dos Deuses sobreveio
àquelas nações? O mesmo livro inspirado, em um capítulo anterior, relaciona a
‘vinda desse furor’ com a abertura do “sexto selo” e que esta parte da profecia
aponta para eventos ainda a acontecerem no nosso futuro, no “julgamento da
Geena”, na destruição final dos ímpios deste mundo na “segunda morte”, o “lago
de fogo”. (Veja Mateus 3:7; 23:33; Lucas 3:7; Revelação 6:12, 17.) E quanto ao
‘tempo designado para o julgamento dos mortos’ ocorrer? O que significa?
Aconteceu isso em 1914? Jesus disse que será ele quem vai executar esse
julgamento. Ademais, ele indicou que o tempo para isso estaria relacionado com
a “ressurreição”. Disse ele que “os que fizeram boas coisas [em vida], [irão]
para uma ressurreição de vida, [mas que] os que praticaram coisas ruins, [serão
levantados] para uma ressurreição de julgamento”. (João 5:28, 29) Evidentemente
que a ressurreição não aconteceu ainda. Nem antes, nem durante e nem depois de 1914 — não até hoje.
Naquele ano tampouco os “escravos, os profetas, e [os] santos” ganharam suas
recompensas. Tampouco os “que temem” o nome dos Deuses ganharam alguma coisa.
Ademais, mesmo hoje há os que continuam ‘arruinando a terra’. O que tudo isso
significa?
1914 EC — FOI MESMO UM ANO MARCADO NA
PROFECIA BÍBLICA?
Para descobrirmos a verdade dos fatos, quer
sobre o ano de 1914, quer sobre outros tempos para o cumprimento de profecias
bíblicas, temos de examinar as Escrituras como um todo, não apenas por uma
coincidência de eventos ou porque cálculos matemático/cronológicos
aparentemente apontam para tais datas. Evidentemente é do interesse de todos
nós, cristãos, sabermos até que ponto certos eventos cronológicos realmente é
em cumprimento de profecias bíblicas. Afinal, quando se trata do Reino dos
Deuses, temos de lembrar das palavras de Jesus, conforme registradas em Lucas
17:20:
“O reino de Deus
não vem de modo impressionantemente observável”. Luc. 17:20.
Como se pode conciliar esta declaração
inspirada sobre a forma da ‘vinda do Reino’ com o fato de que os eventos de
1914 foram impressionantes? Não acha que haveria uma contradição nas palavras
de Cristo caso seu Reino nascesse mesmo nos tempos mais impressionantes que a
humanidade já presenciou nos últimos tempos? As Testemunhas de
Jeová/Testemunhas dos Deuses Santos, cristãos ungidos pelo espírito, preocupados com a
espiritualidade de seus irmãos no mundo todo, decidiram pedir ao “espírito dos
Deuses santos”, que os ‘ajudasse’ na busca do entendimento correto acerca dos ‘tempos
e das épocas que os Deuses colocaram sob Suas próprias jurisdições’. (Daniel
4:8; João 14:26; Atos 1:7) Estes cristãos sinceros ‘percorreram as Escrituras’
em busca do ‘entendimento abundante’ e, pelos seus esforços, tiveram suas orações
atendidas em parte. (Daniel 12:4) Foram informadas pelo espírito sobre a época
certa para o nascimento do Reino dos
Deuses; sobre o tempo de duração dos “sete tempos” de Daniel 4:10-17 e
também sobre “os tempos designados das nações”, (“Tempos dos gentios”,
Almeida.) de Lucas 21:24. Concordemente, o número 19 de A Continela vem com um “banquete
de pratos bem azeitados”. (Isaías 25:6) Alimente-se e compartilhe do alimento
espiritual com seus coirmãos.
__________
* Em 1931 o nome foi mudado para Testemunhas
de Jeová.
# Veja A Sentinela 15 de outubro de 1995, p.
21, § 16; Veja também o capítulo 26 de Revelação
– Seu grandioso Clímax Está Próximo, página 172.
Um comentário:
Gostei da matéria.
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